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Dia da Imunização

Conscientizar a população sobre a importância das vacinas e de manter o calendário vacinal em dia é um dos principais objetivos do Dia da Imunização, celebrado em 9 de junho. Este desafio nunca se fez tão presente como agora, tempos em que a segurança e eficácia das vacinas têm sido colocadas em xeque e em que a queda acentuada nas coberturas vacinais coloca em alerta as autoridades sanitárias, não só do Brasil, mas de todo o mundo.


Apesar de ser referência mundial em vacinação com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), e com ele ter eliminado doenças como poliomielite, varíola, difteria rubéola e sarampo, o Brasil assiste hoje a uma diminuição gradual nos índices das coberturas das principais vacinas do calendário do PNI. Seja por desinformação ou outras dificuldades, como por exemplo o acesso às salas de vacina, o País já registra até mesmo o recrudescimento de doenças como, o sarampo que, desde 2018 voltou a circular em território nacional.

Criado em 1973, o PNI disponibiliza por ano, gratuitamente, mais de 300 milhões de doses de vacinas para os estados e municípios, visando a imunização de crianças, adolescentes, adultos e idosos em todo território nacional. Atualmente, o PNI oferece 19 vacinas para mais de 20 doenças. Vale ressaltar ainda o esforço das equipes de vacinação, cujo empenho permite levar a imunização mesmo a locais de difícil acesso, como em comunidades indígenas, comunidades ribeirinhas, entre outros.

Para o presidente do Conass (Conselho Nacional da Secretaria da Saúde), Nésio Fernandes, a principal medida de prevenção para evitar que as pessoas sofram, tenham sequelas ou percam pessoas próximas por doenças,  são as vacinas. “Nós temos hoje vacinas seguras, eficazes e autorizadas pela agência regulatória que garante a incorporação desses imunobiológicos de forma segura para evitar o adoecimento e o óbito”, disse.

 Nésio enfatizou que para ter uma ampla cobertura vacinal é preciso ter uma estratégia coletiva para ter, pelo menos, 90% de cobertura. “Quando existe uma fragilidade dos gestores públicos no assunto, não são as vacinas que estão sendo atacadas, mas sim as políticas públicas. Quando o gestor público fala para todo território nacional que a vacinação é uma decisão do pai e da mãe e que é uma questão de opinião do indivíduo, ele fragiliza a ciência e a possibilidade de termos estratégias nacionais que mobilizem as pessoas pela vacinação”, pontuou.

“As vacinas salvam vidas”, disse o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, que também enalteceu a importância do PNI. “O Brasil tem uma das políticas mais completas de vacinação, tendo em seu escopo o maior programa de imunização do mundo”.

Segundo Medeiros, a prevenção e o controle de doenças por meio das vacinas causam um impacto direto na saúde individual e coletiva, sendo fundamental para a eliminação e erradicação de diversas doenças, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população.

Na opinião da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, “a imunização é fundamental para garantir a saúde individual e coletiva e foi um dos grandes ganhos civilizacionais, permitindo controlar e erradicar inúmeras doenças, tendo seu impacto positivo comparado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ao do acesso à água potável”, disse.

Ela explicou que o Brasil tem hoje o menor número de casos de doenças imunopreveníveis da história e destacou o reconhecimento do PNI e do Sistema Único de Saúde (SUS), em todo o mundo, graças à sua atuação na vacinação da população. Doenças como poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita e o sarampo foram erradicadas.

Cunha citou dados sobre os benefícios da prática que evitam anualmente mais de 3 milhões de mortes em todo o mundo e, no Brasil, aumenta a expectativa de vida do brasileiro em torno de 30 anos. “Esses números por si só, já nos mostram a importância e o valor das vacinas”.

A assessora em imunização da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), Lely Guzmán, destaca a importância de manter o calendário vacinal em dia, porque, além de evitar as doenças que podem levar à morte, podem salvar a vida de muita gente. “É preciso manter o calendário de vacinação em dia, principalmente considerando que o Brasil possui um dos mais completos esquemas de vacinação do mundo, voltado para todos os membros da família e aqueles trabalhadores que estão mais expostos”, disse. 

Quando questionados sobre os motivos de as pessoas não estarem se vacinando e nem a seus filhos, muitos aspectos em comum foram citados, como por exemplo, a desinformação e circulação de fake news, a falsa segurança em relação a doenças hoje erradicadas, justamente por causa da vacinação e também aspectos relacionados à infraestrutura e dificuldades de acesso, como esclareceu o próprio secretário da SVS, Arnaldo Medeiros. “Alguns motivos podem estar relacionados a situações como horário de funcionamento dos serviços de saúde e, principalmente, a falsa sensação de segurança da população frente a diminuição de casos das doenças imunopreveníveis”.

Para ele, o risco disso é o retorno de doenças já eliminadas por meio da vacinação, como é o caso da poliomielite, eliminada do País desde a década de 1990, e também o retorno de doenças já controladas, com o aumento de casos e óbitos por doenças imunopreveníveis, como o sarampo e a meningite.

O presidente da SBIM, por sua vez, observou que, desde 2019, a OMS já chamava a atenção para a hesitação das pessoas em se vacinar. Ele citou motivos citados à época denominados como os 3 “C”: confiança, complacência e conveniência. “A confiança, não só na segurança e eficácia das vacinas, como também nos governantes, nas instituições e nos profissionais de saúde.  A complacência, que é a falsa sensação de segurança de que doenças que as pessoas nunca viram e não conhecem, e nunca viram e não conhecem por serem vacinadas, acham que não precisam vacinar ou vacinar seus filhos, além da conveniência que é um aspecto mais relacionado à estrutura física e de recursos humanos da nossa rede, como questão de horários de atendimento etc”. Então isso tudo em 2019 já impactava”, explicou.

Juarez Cunha também chamou atenção para a circulação de informações falsas e a falta de uma comunicação que estimule a vacinação. “Esse aspecto tem atrapalhado muito em especial porque não temos peças publicitárias que incentivam a vacinação. Pelo contrário, o que temos visto é a desinformação sendo cada vez mais disseminada por meio das fake news, o que abala muito a confiança e faz com que as pessoas que estão hesitantes acabem não se vacinando ou vacinando seus filhos”, argumentou Cunha.

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